Page 14 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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na minha direção quando bati.
- Quem é? - gritou de lá - Caulfield? Entre, rapaz. Fora da sala de aula ele
estava sempre gritando. Isso às vezes me enchia um pouco.
Foi só entrar e fui ficando logo meio arrependido de ter ido. Ele estava
lendo a revista Atlantic Monthly, havia pílulas e remédios espalhados por todo
canto e o quarto inteiro cheirava a vick-vaporub. Era um bocado deprimente. Já
não morro de amores por gente doente, mas o negócio era ainda mais deprimente
porque o velho Spencer estava usando um roupão tão velho e surrado que
parecia já ter nascido dentro dele. De qualquer maneira, não me agrada muito
ver um sujeito velho de pijama ou roupão. Fica sempre aparecendo o peito, todo
ossudo e encalombado. E as pernas. Perna de gente velha na praia é sempre
branca e sem cabelo.
- Como vai o senhor? - eu disse. - Recebi seu bilhete e quero lhe agradecer.
(Ele tinha me mandado um bilhete pedindo que eu aparecesse para dizer adeus
antes das férias de Natal, mas era tudo porque eu não ia voltar mesmo.) – O
senhor nem precisava escrever, vinha mesmo aqui me despedir.
- Senta aí, meu filho - disse o velho Spencer, mostrando a cama.