Page 13 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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                      Cada um deles tinha seu próprio quarto e tudo. Deviam andar beirando os
               setenta  anos,  ou  até  mais.  No  entanto,  apesar  da  idade,  sentiam  prazer  em
               qualquer coisinha, ainda que, naturalmente, fosse um prazer meio besta. Sei que

               parece maldade falar assim deles, mas não é por maldade que eu falo. O negócio
               é  que  costumava  pensar  um  bocado  no  velho  Spencer,  e,  se  a  gente  pensasse
               muito nele, começava a imaginar por que cargas d'água ele ainda continuava a
               viver. Já estava todo torto, empenado, e, na sala de aula, sempre que deixava cair
               um pedaço de giz, um sujeito qualquer da primeira fila tinha que se levantar para

               apanhar o giz do chão. Na minha opinião, um troço desses é realmente doloroso.
               Mas  se  a  gente  pensasse  nele  apenas  o  suficiente,  em  vez  de  ficar  pensando
               demais, acabava vendo que, afinal de contas, ele não estava se arranjando tão
               mal. Por exemplo, um domingo em que eu e outros sujeitos tínhamos ido à casa
               dele tomar chocolate, ele nos mostrou uma manta, toda velha e usada, que tinha
               comprado  de  um  índio  navajo  no  Parque  de  Yellowstone.  Via-se  que  o  velho
               Spencer tinha vibrado com aquela compra. É isso que eu queria dizer: tem gente

               velha pra chuchu, como o velho Spencer, que fica na maior felicidade só porque
               comprou um cobertor.










                      A porta do quarto estava aberta, mas bati assim mesmo só para bancar o
               educado  e  tudo.  Do  corredor,  podia  ver  onde  ele  estava,  sentado  numa  baita
               poltrona de couro, todo enrolado naquele cobertor que eu acabei de falar. Olhou
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