Page 8 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 8
Também não fui assistir ao jogo porque ia me despedir do velho Spencer,
meu professor de História. Ele estava gripado e por isso imaginei que não o veria
de novo até o começo das férias de Natal. Havia escrito um bilhete, dizendo que
queria me ver antes de eu voltar para casa. É que sabia que eu não ia voltar para
o Pencey.
Esqueci de falar sobre isso - eu tinha sido chutado do colégio. Não ia
mesmo voltar depois das férias de Natal porque tinha sido reprovado em quatro
matérias e não estava estudando nada. Eles tinham me avisado mais de uma vez
que eu devia me dedicar aos estudos - principalmente na época das parciais,
quando meus pais foram chamados para uma conversa com o velho Thurmer -
mas nem liguei. E aí fui reprovado. Eles reprovam um bocado de gente no
Pencey, porque o colégio tem um alto nível de ensino. Tem mesmo, no duro.
Enfim era dezembro, estava fazendo um frio de rachar, principalmente no
alto daquele morro idiota. Eu estava só com um paletó, sem luvas nem nada.
Uma semana antes alguém tinha entrado no meu quarto e roubado meu casaco
de pelo de camelo, com as luvas forradas de pele no bolso e tudo. O Pencey
estava cheio de vigaristas. A maioria dos alunos vinha de famílias riquíssimas,
mas assim mesmo o colégio estava cheio de ladrões. Quanto mais caro um
colégio, mais gente safada tem, no duro. De qualquer maneira, eu continuava ao
lado daquele canhão maluco, olhando o jogo lá embaixo, e gelado até o rabo. Só
que não estava prestando muita atenção à partida. Só estava zanzando por ali
para ver se conseguia sentir uma espécie qualquer de despedida, porque já deixei
uma porção de colégios e lugares sem ao menos saber que estava indo embora.