Page 147 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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bonitinha e esperta do que ela. É esperta mesmo. Por exemplo, na escola ela tira

               cem  em  tudo.  Na  verdade,  sou  o  único  burro  da  família.  Meu  irmão  D.  B.  é
               escritor e tudo, e meu irmão Allie, aquele que morreu, de quem já falei, era um
               crânio. O único burro sou eu mesmo. Mas valia a pena ver a Phoebe. Ela tem um
               cabelo meio ruivo, parecido com o do Allie, e usa um penteado bem curto no
               verão, com os cabelos puxados para trás das orelhas. As orelhas dela são muito
               bonitinhas.  No  inverno  ela  usa  o  cabelo  comprido.  Às  vezes  minha  mãe  faz

               tranças  no  cabelo  dela,  outras  vezes  não.  Fica  bonita  mesmo.  Ela  só  tem  dez
               anos  e  é  magricela  como  eu,  mas  de  um  magro  bonito.  Magrinha  como  uma
               patinadora. Uma vez fiquei olhando da janela enquanto ela atravessava a Quinta
               Avenida,  para  ir  ao  Central  Park,  e  é  assim  que  ela  é,  magrinha  como  uma
               patinadora.  É  impossível  não  gostar  dela.  Por  exemplo,  quando  a  gente  conta
               alguma  coisa,  ela  sabe  direitinho  de  que  diabo  é  que  a  gente  está  falando.  A

               gente pode até levá-la a qualquer lugar. Se a gente leva ela para ver um filme
               vagabundo, por exemplo, ela sabe direitinho que é um abacaxi. Se é um bom
               filme, ela sabe que é um bom filme. D. B. e eu a levamos para ver um filme
               francês, "A Mulher do Padeiro", com Raimu. Ela vibrou. Mas o favorito dela é
               "Os 39 Degraus", com Robert Donat. Ela sabe a porcaria do filme todo de cor,
               porque já a levei para ver o troço mais de dez vezes. Por exemplo, quando o
               Donat chega àquela fazenda escocesa, fugindo da polícia e tudo, a Phoebe diz

               bem alto no cinema, ao mesmo tempo que o tal escocês na tela: "Você gosta de
               arenque?" Ela sabe todo o diálogo de cor. E quando o professor, aquele que no
               duro  é  um  espião  alemão,  vai  levantando  o  dedo  mindinho  aleijado,  para
               denunciar o Robert Donat, a Phoebe é mais ligeira: levanta o dedinho no escuro,
               bem na frente da minha cara.










                      Ela é cem por cento. Todo mundo tem que gostar dela. O único problema é
               que,  às  vezes,  ela  é  um  pouco  afetiva  demais.  Para  uma  criança  ela  é  muito
               emotiva. É mesmo. E tem outra coisa, ela escreve livros o tempo todo, embora

               não termine nenhum. São todos sobre uma menina chamada Hazel Weatherfield
               - só que a Phoebe escreve "Hazle". A tal da Hazel Weatherfield é uma garota-
               detetive  que  é  órfã,  mas  o  pai  dela  vive  aparecendo.  O  pai  é  sempre  um
               "cavalheiro alto e simpático, de uns vinte anos de idade". Eu vibro com um troço
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