Page 217 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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- Você é um idiota - falei. - Você é um vigarista dum imbecil nojento e não
dou dois anos para ver você aí pela rua, igual a esses vagabundos raquíticos que
atracam a gente pra pedir dinheiro prum café. Você vai andar com um paletó
imundo, todo sujo de catarro, e vai ser um...
Aí ele me acertou. Nem tentei sair do caminho, ou me esquivar, nem nada.
Só senti aquele murro tremendo no estômago.
Mas não desmaiei nem nada, porque me lembro que ainda estava no chão
quando vi os dois saírem e fecharem a porta. Aí fiquei deitado uma porção de
tempo, mais ou menos como aconteceu da outra vez com o Stradlater. Só que
dessa vez pensei que ia morrer mesmo. No duro. Pensei que estivesse me
afogando ou coisa parecida. O caso é que eu mal podia respirar. Quando afinal
levantei, tive que ir até o banheiro todo dobrado, apertando a barriga e tudo.
Mas eu sou doido. Verdade. Juro por Deus. Na metade do caminho para o
banheiro, comecei a fingir que estava com uma bala no bucho. O tal de Maurice
tinha me chumbado. Por isso eu estava indo para o banheiro tomar uma bruta
talagada de uísque ou coisa parecida, para acalmar os nervos e me ajudar a entrar
mesmo em ação. Me imaginei saindo da porcaria do banheiro de terno e tudo,
com minha pistola no bolso e cambaleando um pouco. Aí, em vez de usar o
elevador, eu descia pela escada, me agarrando no corrimão e tudo, enquanto um
filete de sangue escorria pelo canto da minha boca. Ia descer alguns andares -
apertando a barriga, sangue pingando por todo lado - e aí chamava o elevador.
Assim que o tal do Maurice abrisse a porta, dava de cara comigo, de pistola na