Page 222 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Biltmore, às duas horas, e que não se atrasasse, porque a peça ia começar às duas
e meia. Ela sempre se atrasava. Aí desliguei. Ela era chata pra burro, mas era um
bocado bonita.
Depois de marcar o encontro, levantei, me vesti e arrumei a mala. Espiei
pela janela antes de ir embora, para ver como iam os tarados, mas todas as
venezianas estavam baixadas. Eram um padrão de decência pela manhã. Aí
tomei o elevador e paguei a conta. Não vi o tal do Maurice em parte alguma.
Claro que não me danei a procurar por ele, o filho da mãe.
Peguei um táxi na porta do hotel, mas não tinha a mínima ideia para onde
ir. Não tinha mesmo para onde ir. Era domingo ainda e eu só podia ir para casa
na quarta-feira. Ou, no mínimo, na terça. E, no duro mesmo, não estava com
vontade nenhuma de me meter noutro hotel para me quebrarem a cara. Por isso,
mandei o motorista me levar para a Estação Grand Central. Era juntinho do
Biltmore, onde ia encontrar a Sally mais tarde, e calculei que o melhor era deixar
as malas guardadas num daqueles armários de aço que a gente leva a chave, e
depois, ir tomar café. Estava com fome. Enquanto o táxi seguia, tirei a carteira e
mais ou menos contei o dinheiro que me sobrava. Não me lembro exatamente
quanto tinha, mas não era nenhuma fortuna. Tinha jogado fora um dinheirão
naquelas duas miseráveis semanas. Tinha mesmo. No fundo, eu sou um
tremendo esbanjador. E o que não gasto, acabo perdendo. A maioria das vezes,
até esqueço de apanhar meu troco nos restaurantes, boates e tudo. Meus pais
ficam furiosos com isso e, afinal de contas, têm razão. Mas meu pai é bastante
rico. Não sei quanto ele ganha - nunca conversamos sobre isso - mas sei que é
um bocado. Ele é advogado de uma companhia. Esses camaradas faturam uma
nota alta. Outra prova de que ele está muito bem de vida é que está sempre
investindo em peças da Broadway. As peças sempre fracassam e minha mãe fica
maluca quando ele faz isso. Desde que meu irmão Allie morreu ela não tem