Page 250 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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isso eram. Não agiam feito gente, mas não representavam como atores. É difícil

               de explicar. Agiam assim como se soubessem que eram famosos e tudo. Quer
               dizer, eram bons, mas eram bons demais. Quando um deles acabava de dizer sua
               parte,  imediatamente  o  outro  tratava  de  falar  alguma  coisa  bem  depressa.
               Queriam parecer gente de verdade, conversando e se interrompendo e tudo. Mas
               o problema é que pareciam demais com gente conversando e se interrompendo.
               Era um pouco como o Ernie tocando lá no Village. Se a gente faz uma coisa bem
               demais,  aí,  depois  de  algum  tempo,  se  não  tiver  muito  cuidado,  começa  a  se

               exibir. E aí a gente deixa de ser bom de verdade. De qualquer modo, eles eram as
               únicas pessoas na peça - os Lunts, é claro - que pareciam ter algum miolo. Isso
               eu tenho que admitir.










                      No fim do primeiro ato, saímos com todos os outros trouxas para fumar um
               cigarro. Uma palhaçada completa. Nunca vi tanto cretino junto de uma vez só,
               todos  fumando  como  umas  chaminés e falando alto sobre  a peça para  que os
               outros vissem como eles eram inteligentes. O bestalhão de um artista de cinema

               estava fumando perto de nós. Não sei o nome dele, mas é o tal que faz sempre o
               papel dum cara que, na guerra, se borra todo de medo na hora de enfrentar o
               fogo. Estava com uma loura do barulho, e os dois estavam tentando bancar o
               blasé e tudo, como se não soubessem que todo mundo estava olhando para ele.
               Modesto  pra  burro.  Me  diverti  um  bocado  com  a  estória.  A  Sally  não  falou
               muito, a não ser para se babar com os Lunts, porque estava ocupada em achar

               tudo  bacana  e  em  ser  simpática.  Aí,  de  repente,  descobriu  do  outro  lado  do
               saguão um imbecil qualquer que ela conhecia. O cara estava de terno de flanela
               cinza-escuro  e  um  desses  coletes  de  xadrez.  Completamente  metido  a  besta.
               Crente  que  estava  abafando.  Ele  estava  encostado  na  parede,  fumando  pra
               chuchu,  dando  a  impressão  de  que  estava  mortalmente  aporrinhado.  A  Sally
               ficou repetindo: "Conheço aquele rapaz de algum lugar". Ela sempre conhecia
               alguém, em qualquer lugar que estivesse, ou pelo menos pensava que conhecia.

               Ficou repetindo tanto, que me enchi e disse:
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