Page 246 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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cama ou pendurando seus trecos no armário - vivia pendurando alguma coisa no
armário, me deixava maluco - e, quando não estava tagarelando com aquela voz
de taquara rachada, ficava assoviando o tempo todo. Ele era capaz de assoviar
até troços clássicos, mas quase sempre assoviava músicas de jazz. Era capaz de
pegar um negócio em como, por exemplo, "Tin Roof Blues", e assoviar tão fácil
e bonito - sem parar de pendurar os trecos no armário - que deixava a gente
doido. Claro que eu nunca disse a ele que o achava um assoviador fabuloso.
Ninguém vai chegar junto de um cara e dizer: "Você é um assoviador fabuloso".
Mas morei com ele uns dois meses, apesar de toda a chatura, só porque ele
assoviava bem pra burro. Por isso, tenho minhas dúvidas quanto aos chatos.
Talvez a gente não deva sentir tanta pena de ver uma garota legal se casar com
um deles. A maioria não faz mal a ninguém e talvez, sem que a gente saiba,
sejam todos uns assoviadores fabulosos ou coisa parecida. Nunca se sabe...
Afinal, avistei a Sally subindo a escada e comecei a descer para encontrá-
la. Ela estava um estouro. No duro, mesmo. Estava com um casaco preto e uma
espécie de boina preta. Ela quase nunca usava chapéu, mas aquela boina ficava
cem por cento. O mais engraçado é que, na hora que a vi, me deu uma bruta
vontade de casar com ela. Sou biruta. Nem ao menos gostava muito dela e,
apesar disso, de repente, me senti como se estivesse apaixonado e quisesse casar
com ela. Juro por Deus que sou biruta. Reconheço.
- Holden! - ela gritou. - Que bom te encontrar! Faz séculos que não nos
vemos!