Page 245 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Cheguei lá cedo demais e, por isso, me sentei num daqueles sofás de
couro, bem pertinho do relógio do saguão, e fiquei olhando as garotas. Muita
gente já tinha chegado de férias e acho que havia mais ou menos um milhão de
pequenas por ali, sentadas ou em pé esperando os namorados. Garotas de pernas
cruzadas, garotas de pernas descruzadas, garotas com pernas fabulosas, garotas
com pernas pavorosas, garotas que pareciam boazinhas, garotas que, se a gente
fosse conhecer, ia ver que eram umas safadas. Era realmente uma paisagem
interessante. De certo modo, também era meio deprimente, porque a gente ficava
pensando no que ia acontecer com todas elas. Quer dizer, depois que
terminassem o ginásio e a faculdade. A maioria ia provavelmente casar com uns
bobalhões. Esses sujeitos que vivem dizendo quantos quilômetros fazem com
um litro de gasolina. Sujeitos que ficam doentes de raiva, igualzinho umas
crianças, se perdem no golfe ou até mesmo num jogo besta como pingue-
pongue. Sujeitos que são um bocado perversos. Sujeitos que nunca na vida
abriram um livro. Sujeitos chatos pra burro. Mas é preciso ter cuidado com isso,
com essa mania de chamar certos caras de chatos. Não entendo bem os chatos.
Juro que não. No Elkton Hills, durante uns dois meses fui companheiro de
quarto dum garoto, o Harris Macklin. Ele era muito inteligente e tudo, mas era
um dos maiores chatos que já encontrei na minha vida. Tinha uma dessas vozes
de taquara rachada e praticamente não parava nunca de falar. Não havia jeito de
se calar, e o pior de tudo é que, em primeiro lugar, nunca dizia uma única coisa
que a gente tivesse interesse em ouvir. Mas tinha uma coisa que ele fazia como
ninguém: o filho da puta assoviava como gente grande. Ele ficava fazendo a