Page 245 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 245

17




















                      Cheguei  lá  cedo  demais  e,  por  isso,  me  sentei  num  daqueles  sofás  de
               couro, bem pertinho do relógio do saguão, e fiquei olhando as garotas. Muita

               gente já tinha chegado de férias e acho que havia mais ou menos um milhão de
               pequenas por ali, sentadas ou em pé esperando os namorados. Garotas de pernas
               cruzadas, garotas de pernas descruzadas, garotas com pernas fabulosas, garotas
               com pernas pavorosas, garotas que pareciam boazinhas, garotas que, se a gente
               fosse  conhecer,  ia  ver  que  eram  umas  safadas.  Era  realmente  uma  paisagem
               interessante. De certo modo, também era meio deprimente, porque a gente ficava

               pensando  no  que  ia  acontecer  com  todas  elas.  Quer  dizer,  depois  que
               terminassem o ginásio e a faculdade. A maioria ia provavelmente casar com uns
               bobalhões.  Esses  sujeitos  que  vivem  dizendo  quantos  quilômetros  fazem  com
               um  litro  de  gasolina.  Sujeitos  que  ficam  doentes  de  raiva,  igualzinho  umas
               crianças,  se  perdem  no  golfe  ou  até  mesmo  num  jogo  besta  como  pingue-
               pongue.  Sujeitos  que  são  um  bocado  perversos.  Sujeitos  que  nunca  na  vida
               abriram um livro. Sujeitos chatos pra burro. Mas é preciso ter cuidado com isso,

               com essa mania de chamar certos caras de chatos. Não entendo bem os chatos.
               Juro  que  não.  No  Elkton  Hills,  durante  uns  dois  meses  fui  companheiro  de
               quarto dum garoto, o Harris Macklin. Ele era muito inteligente e tudo, mas era
               um dos maiores chatos que já encontrei na minha vida. Tinha uma dessas vozes
               de taquara rachada e praticamente não parava nunca de falar. Não havia jeito de

               se calar, e o pior de tudo é que, em primeiro lugar, nunca dizia uma única coisa
               que a gente tivesse interesse em ouvir. Mas tinha uma coisa que ele fazia como
               ninguém:  o  filho  da  puta  assoviava  como  gente  grande.  Ele  ficava  fazendo  a
   240   241   242   243   244   245   246   247   248   249   250