Page 276 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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do Luce conhecia todos os veados e lésbicas em atividade no território dos
Estados Unidos. Bastava a gente dizer um nome - qualquer nome - e o Luce
dizia se era veado ou não. Às vezes era difícil acreditar nas pessoas que ele dizia
que eram veados e mulher macho e tudo, artistas de cinema e coisas assim.
Alguns caras que ele dizia que eram veados eram até casados, pomba. A gente
dizia para ele: "Quer dizer que o Joe Blow é veado? O Joe Blow? Aquele cara
grandalhão e machão, que faz sempre o papel de gangster e de cowboy?" E o
Luce respondia: "Lógico". Ele vivia falando "Lógico". Dizia que não tinha a
menor importância o fato dum cara ser casado ou não, e que a metade dos
sujeitos casados, no mundo inteiro, eram veados sem saber. Dizia que a gente
podia virar fresco da noite pro dia, se tivesse as características e tudo. Deixava a
gente apavorado. Eu ficava esperando virar veado ou coisa parecida. O
engraçado no Luce é que eu achava ele próprio meio afrescalhado.
Por exemplo, vivia dizendo: "Experimenta desse tamanho", e mexia com a
gente quando encontrava no corredor. E, toda vez que íamos ao banheiro, ele
sempre deixava a droga da porta aberta e ficava conversando, enquanto a gente
escovava os dentes ou coisa que o valha. Esse tipo de negócio é meio aveadado.
É mesmo. Conheci uma porção de veados de verdade, nos colégios e tudo, e eles
estão sempre fazendo uns troços assim, e é por isso que sempre tive minhas
dúvidas sobre o Luce. Mas era um cara um bocado inteligente. Era mesmo.
Ele nunca dizia "Como vai" ou coisa parecida quando encontrava com a
gente. A primeira coisa que ele disse, assim que se sentou, foi que só podia ficar
uns dois minutos. Disse que tinha um encontro. Aí pediu um martini seco.
Mandou o barman fazer o troço bem seco mesmo, e sem azeitona.