Page 272 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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um tempão na droga do exército. Esse é que é o problema. Meu irmão D. B.
ficou no exército quatro anos. Esteve na guerra mesmo - participou do
desembarque do dia D e tudo - mas acho que ele detestava mais o exército do
que a própria guerra. Naquele tempo eu era praticamente uma criança, mas me
lembro que, quando ele vinha para casa de licença e tudo, passava o tempo todo
praticamente na cama. Quase que nem vinha na sala de visitas. Depois, quando
seguiu para a Europa e para a guerra, não foi ferido nem nada, e nem teve que
atirar em ninguém. O único troço que ele tinha que fazer era dirigir o dia inteiro
o carro de combate de um general de araque. Uma vez ele disse a mim e ao Allie
que, se tivesse de atirar em alguém, não ia saber para que lado apontar. Disse que
o exército estava praticamente tão cheio de filhos da puta quanto os nazistas. Me
lembro que uma vez o Allie perguntou a ele se até que não era bom ter estado na
guerra, porque ele era escritor e assim teria um bocado de assunto para escrever.
Ele mandou o Allie ir buscar a luva de beisebol dele e perguntou quem era o
melhor poeta da guerra, se o Rupert Brooke ou a Emily Dickinson. O Allie
respondeu que era a Emily Dickinson. Não entendo muito do assunto, porque
não leio muito poesia, mas sei que eu ia ficar maluco se tivesse que ir para o
exército e aturar, o tempo todo, a companhia de um bando de sujeitos como o
Ackley, o Stradlater e o tal do Maurice, marchando com eles e tudo. Uma vez fui
escoteiro, mais ou menos durante uma semana, e já não agüentava mais nem
olhar para a nuca do camarada na minha frente. Os monitores ficavam o tempo
todo mandando a gente olhar para a nuca do companheiro da frente. Juro que, se
houver outra guerra, é melhor me pegarem logo e me botarem na frente de um
pelotão de fuzilamento. Juro que não ia protestar. O que eu não entendo no D.B.
é que ele, mesmo detestando tanto a guerra, me disse para ler "Adeus às Armas"
nas últimas férias. Disse que o livro era o máximo. É isso que eu não entendo.
Tinha no livro um sujeito chamado Tenente Henry que era considerado um bom
sujeito e tudo. Não sei como o D.B. podia detestar tanto o exército e a guerra e
tudo, e ao mesmo tempo gostar de um cretino daqueles. Não entendo, por
exemplo, como ele pode gostar de um livro cretino daqueles e ainda gostar
daquele do Ring Lardner, ou daquele outro que ele gostava pra chuchu, "O
Grande Gatsby". O D. B. ficou ofendido quando eu disse isso e respondeu que
eu era muito garoto e tudo para apreciar o livro, mas não concordo. Disse a ele
que gostava do Ring Lardner e de "O Grande Gatsby" e tudo. Gostava mesmo.
Eu era tarado pelo "O Grande Gatsby". O Gatsby velho de guerra - eu vibrava
com ele. De qualquer maneira, até que achei bom eles terem inventado a bomba
atômica. Se houver outra guerra, vou me sentar bem em cima da droga da