Page 271 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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dia, uns garotos estão jogando críquete no parque e ele leva uma bolada na
cabeça. Aí, na mesma hora, ele recupera a droga da memória e vai lá dentro
beijar a testa da mãe e tudo. E começa a ser um duque normal, e se esquece da
garota boazinha que tem a editora. Eu podia contar o resto da estória, se não me
desse tanta vontade de vomitar. Não que eu fosse estragar o filme para ninguém
nem nada. No duro, não há o que estragar. De qualquer forma, acaba com o Alec
e a garota boazinha se casando, e o irmão que é porrista fica bom dos nervos e
opera a mãe do Alec, restituindo-lhe a visão, e aí o irmão beberrão e a Márcia se
apaixonam. Termina todo mundo numa baita mesa de jantar, rindo como uns
idiotas porque o dinamarquês entra com uma ninhada de cachorrinhos. Acho que
todo mundo pensava que o cachorro era macho ou qualquer droga parecida. Só
sei dizer que, quem não quiser vomitar até morrer, não deve nem entrar no
cinema quando estiver passando essa fita.
O que me impressionou é que, bem ao meu lado, tinha uma dona que
chorou durante a droga do filme todo. Quanto mais cretinice acontecia, mais ela
chorava. A gente podia pensar que ela estava chorando porque era bondosa pra
cachorro, mas eu estava perto dela e sei que não era. Tinha um menininho com
ela, chateado pra burro e com vontade de ir ao banheiro, mas ela não o levou de
maneira nenhuma. Ficou o tempo todo dizendo para ele ficar sentado quieto e se
comportar. Era tão bondosa quanto uma porcaria dum lobo. De cada dez pessoas
que choram de se acabar com alguma cretinice no cinema, nove são, no fundo,
uns bons sacanas. Fora de brincadeira.
Quando acabou o filme, fui andando até o Wickey Bar, onde tinha
combinado encontrar com o Luce. Enquanto andava, fui pensando sobre a guerra
e tudo. Esses filmes de guerra sempre me dão isso. Acho que não ia agüentar se
tivesse que ir para a guerra. No duro que não agüentava. Não seria tão ruim se
pegassem logo a gente e matassem ou coisa parecida, mas a gente tem que ficar