Page 298 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Eu estava mesmo na maior água. Desliguei também. Imaginei que ela
devia estar chegando em casa, de volta de algum encontro. Podia imaginá-la em
algum lugar com os Lunts e tudo, e aquele bestalhão do Andover. Todos eles
nadando num bule de chá, e dizendo umas besteiras sofisticadas, e sendo muito
encantadores e cretinos. Me arrependi tremendamente de ter telefonado para ela.
Só faço burrada quando estou de pileque.
Continuei um tempão na cabine telefônica, meio agarrado no telefone para
não desabar no chão. Para dizer a verdade, não estava me sentindo lá muito bem.
Mas acabei saindo e fui para o banheiro, cambaleando como um filho da mãe, e
enchi de água fria uma das pias. Aí mergulhei a cabeça na água, até as orelhas.
Nem me preocupei de enxugar a cabeça nem nada, deixei a porcaria da água
escorrer à vontade. Aí fui até o aquecedor junto à janela e me sentei nele. Estava
quentinho. Me senti bem pra chuchu, porque a essa altura eu já estava tremendo
de frio. É uma coisa engraçada, fico sempre tremendo como uma besta quando
estou de porre.
Não tinha mesmo nada para fazer, por isso fui ficando por ali, sentado no
aquecedor, contando os quadradinhos brancos no chão. Estava ficando ensopado.
Uns cinco litros de água escorriam pelo meu pescoço, empapavam o colarinho, a
gravata e tudo, mas eu nem dava bola. Estava bêbado demais para dar bola. Aí,
aquele cara que acompanhava a Valência ao piano, o tal de cabelo ondulado e
pinta de fresco, entrou no banheiro para pentear suas madeixas douradas.
Batemos um papinho enquanto ele se penteava. Só que o cara não era lá muito
de conversa.