Page 303 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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que  me  contou,  eu  não  fui  lá.  Ainda  estava  no  hospital.  Tive  que  ir  para  o

               hospital e tudo quando machuquei minha mão. Seja como for, fiquei com medo
               de  apanhar  uma  pneumonia  e  morrer,  por  causa  daqueles  flocos  de  gelo  no
               cabelo. Me deu uma pena danada do meu pai e da minha mãe. Especialmente da
               minha mãe, porque ela ainda não se conformou com a morte do Allie. Ela não ia
               saber o que fazer com todos os meus ternos e equipamentos esportivos e tudo.
               Só tinha uma coisa boa, era saber que ela não ia deixar a Phoebe assistir à droga
               do meu enterro porque é muito criança. Essa era a única coisa boa. Aí pensei na

               cambada  toda  me  metendo  numa  droga  de  cemitério,  com  meu  nome  num
               túmulo e tudo. Cercado de gente morta. Puxa, depois que a gente morre, eles
               fazem o diabo com a gente. Tomara que quando eu morrer de verdade alguém
               tenha a feliz ideia de me atirar num rio ou coisa parecida. Tudo, menos me enfiar
               numa  porcaria  dum  cemitério.  Gente  vindo  todo  domingo  botar  um  ramo  de

               flores em cima da barriga do infeliz, e toda essa baboseira. Quem é que quer
               flores depois de morto? Ninguém.










                      Quando  faz  bom  tempo,  meus  pais  vão  freqüentemente  ao  cemitério  e
               espetam  um  punhado  de  flores  no  túmulo  do  Allie.  Fui  com  eles  umas  duas
               vezes, mas aí parei. Em primeiro lugar, não tenho o menor prazer em ver o Allie
               naquele cemitério maluco. Todo cercado de caras mortos e túmulos e tudo. Não é
               tão  ruim  quando  faz  sol,  mas  duas  vezes  -  duas  vezes  -  estávamos  lá  dentro
               quando começou a chover. Foi horroroso. Choveu na porcaria do túmulo dele, e

               choveu na grama em cima da barriga dele. Chovia por todo lado. O pessoal todo
               que estava de visita saiu correndo para os carros. Foi isso que me deixou doido.
               Todo mundo podia correr para dentro dos carros, ligar o rádio e tudo e ir jantar
               em  algum  lugar  bacana  -  todo  mundo  menos  o  Allie.  Não  agüento  um  troço
               desses. Eu sei que é só o corpo dele e tudo que está no cemitério, que a alma está
               no  céu  e  essa  merda  toda,  mas  assim  mesmo  não  podia  agüentar  aquilo.  Só
               queria  que  ele  não  estivesse  lá.  Quem  conheceu  o  Allie  entende  o  que  estou

               querendo  dizer.  Não  é  tão  mau  assim  quando  tem  sol,  mas  o  sol  só  aparece
               quando cisma de aparecer.
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