Page 370 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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gritando "Digressão !" e o professor, um tal de Vinson, deu-lhe uma nota ruim
pra diabo porque ele não contou que espécie de animais e legumes e outros
troços tinha lá na fazenda e tudo. Sabe o quê que ele fazia? Começava contando
essas coisas todas e aí, de repente, começava a falar de uma carta que a mãe dele
tinha recebido do tio, e que o tio teve poliomielite e tudo aos quarenta e dois
anos de idade, e se recusava a receber visitas no hospital porque não queria que
ninguém o visse com a perna na tipoia. Não tinha muita ligação com a fazenda,
concordo, mas era simpático. É um troço simpático quando alguém fala de um
tio. Principalmente quando começa a falar da fazenda do pai e, de repente, fica
mais interessado no tio. O negócio é que eu acho uma sujeira começarem a gritar
"Digressão !" pra um sujeito quando ele está todo embalado num assunto... Não
sei. É difícil de explicar.
Eu nem estava com muita vontade de tentar. Em parte por causa daquela
dor de cabeça desgraçada. Pedi a Deus que a senhora Antolini chegasse com o
café. Se há uma coisa que me aporrinha é isso, quando alguém diz que o café
está pronto e não está pronto coisa nenhuma.
- Holden... Uma perguntinha pedagógica e um pouquinho batida. Você não
acha que há um tempo e um lugar para tudo na vida? Você não acha que, se
alguém começa a falar sobre a fazenda do pai, deve agüentar a mão e, depois,
arranjar um jeito de falar sobre a tipoia do tio? Ou, então, se a tipoia do tio é um
assunto tão fascinante, ele não devia tê-lo escolhido logo como tema da
exposição, em vez da fazenda?