Page 5 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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                      Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer

               saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais
               faziam  antes  que  eu  nascesse,  e  toda  essa  lengalenga  tipo  David  Copperfield,
               mas,  para  dizer  a  verdade,  não  estou  com  vontade  de  falar  sobre  isso.  Em
               primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço
               se eu contasse qualquer coisa íntima sobre eles.










                      São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não
               é que eles sejam ruins - não é isso que estou dizendo - mas são sensíveis pra

               burro. E, afinal de contas, não vou contar toda a droga da minha autobiografia
               nem  nada.  Só  vou  contar  esse  negócio  de  doido  que  me  aconteceu  no  último
               Natal, pouco antes de sofrer um esgotamento e de me mandarem para aqui, onde
               estou me recuperando. Foi só isso o que contei ao D.B., e ele é meu irmão e
               tudo. Ele está em Hollywood. Não é muito longe deste pardieiro, e ele vem me
               visitar quase todo fim de semana. Quando eu voltar para casa, talvez no mês que

               vem, é ele quem vai me levar de carro. Comprou há pouco tempo um Jaguar, um
               desses carrinhos ingleses que fazem uns trezentos quilômetros por hora e que
               custou  uns  quatro  mil  dólares.  D.B.  agora  vive  nadando  em  dinheiro,  mas
               antigamente a coisa era outra. Quando morava conosco era apenas um escritor.
               Se  é  que  nunca  ouviram  falar  nele,  foi  D.B.  quem  escreveu  aquele  livro  de
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