Page 112 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Isso me deprimiu. Imaginei minha mãe entrando na loja e perguntando um
milhão de besteirinhas ao vendedor - e cá estava eu levando bomba outra vez. O
troço me deixou um bocado chateado. Minha mãe tinha comprado os patins
errados - eu havia pedido patins de corrida e ela comprou patins de hóquei - mas
fiquei triste de qualquer jeito. Quase todo presente que me dão acaba me
deixando triste.
Depois de arrumar tudo, contei minha grana. Não me lembro exatamente
quanto era, mas estava abonado. Minha avó tinha me mandado uma bolada uma
semana antes. Minha avó é um bocado mão-aberta. Já está meio caduca - é velha
como o diabo - e manda dinheiro pelo meu aniversário umas quatro vezes por
ano. De qualquer maneira, embora estivesse com a erva, achei que não havia mal
algum em levar um dinheirinho extra. A gente nunca sabe. Por isso, atravessei o
corredor e acordei o Frederick Woodruff, o sujeito a quem eu havia emprestado
minha máquina de escrever, e perguntei quanto ele dava por ela. Era um cara um
bocado rico. Disse que não sabia, e que não estava muito interessado. Mas
acabou comprando. A máquina tinha custado uns noventa dólares e ele só me
deu vinte por ela. Estava aborrecido porque eu o havia acordado.
Quando já estava pronto para partir, com as malas e tudo, parei no alto da
escada e dei uma última olhada pela droga do corredor. Acho que chorei, nem sei
porquê. Pus o chapéu de caça vermelho na cabeça, virei a aba para trás, como
gostava, e aí dei um berro, com toda a força:
- Durmam bem, seus imbecis!