Page 185 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Odeio briga de soco. Não que me importe muito de apanhar - embora,
naturalmente, não seja fanático por pancada - mas o que me apavora mais na
briga é a cara do outro sujeito. Não consigo ficar olhando a cara do outro sujeito,
esse é que é o meu problema. Não seria tão ruim se a gente estivesse com os
olhos vendados, ou coisa que o valha. Pensando bem, é um tipo gozado de
covardia, mas não deixa de ser covardia. E eu não procuro me iludir.
Quanto mais eu pensava nas minhas luvas e na minha covardia, mais
deprimido ficava, e por isso decidi, no meio do caminho, entrar em algum canto
para tomar um drinque. Só tinha tomado três doses no Ernie's, e nem tinha
acabado a última. Se há um troço que eu tenho é resistência para bebida. Quando
me dá na veneta, sou capaz de beber a noite inteira e ficar cem por cento. Uma
vez, no Colégio Whooton, eu e um outro garoto, o Raymond Goldfard,
compramos uma garrafa de uísque e fomos beber na Capela, num sábado de
noite, porque lá ninguém ia ver a gente. Ele ficou na maior água, mas eu acabei
inteirinho. Só fui ficando cada vez mais superior, mais indiferente. Vomitei antes
de dormir, mas na verdade não precisava - tive mesmo que fazer força para
vomitar.
De qualquer modo, antes de chegar ao hotel resolvi entrar num bar de
aparência infecta, mas dois sujeitos vinham saindo, bêbados que nem gambá, e
queriam saber onde era a entrada do metrô. Um deles, com pinta de cubano,
ficou respirando com um hálito podre em cima da minha cara, enquanto eu dava
a informação. Perdi até a vontade de entrar na porcaria do bar e tratei de seguir
direto para o hotel.