Page 183 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 183

13




















                      Voltei a pé para o hotel. Quarenta e um gloriosos quarteirões. Não que eu
               estivesse com vontade de andar nem nada. Foi mais porque não queria entrar e

               sair  de  outro  táxi.  De  vez  em  quando  a  gente  se  cansa  de  andar  de  táxi,  da
               mesma maneira que se cansa de andar de elevador. De repente, a gente sente que
               tem de ir a pé, qualquer que seja a distância ou a altura. Quando eu era menor,
               costumava subir para nosso apartamento pelas escadas. Doze andares.










                      Nem parecia que tinha nevado, as calçadas já estavam quase limpas. Mas
               fazia um frio de rachar e tratei de tirar do bolso meu chapéu vermelho e botei na
               cabeça  -  estava  pouco  ligando  para  minha  aparência.  Cheguei  até  a  baixar  os
               protetores de orelha. Bem que gostaria de saber qual o safado que tinha roubado

               minhas luvas no Pencey, porque minhas mãos estavam geladas. Não que eu fosse
               fazer  muita  coisa  se  soubesse.  Sou  um  desses  sujeitos  covardes  pra  chuchu.
               Procuro  não  demonstrar,  mas  sou.  Por  exemplo,  se  tivesse  descoberto  quem
               roubou  minhas  luvas  no  Pencey,  provavelmente  teria  ido  até  o  quarto  do
               vigarista e diria: "Muito bem. Que tal ir me passando as luvas?" Aí, o vigarista

               que as tinha roubado provavelmente responderia, com a voz mais inocente do
               mundo: "Que luvas?" Aí eu provavelmente ia até o armário dele e encontrava as
               luvas num canto qualquer, escondidas na porcaria das galochas ou coisa que o
   178   179   180   181   182   183   184   185   186   187   188