Page 183 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Voltei a pé para o hotel. Quarenta e um gloriosos quarteirões. Não que eu
estivesse com vontade de andar nem nada. Foi mais porque não queria entrar e
sair de outro táxi. De vez em quando a gente se cansa de andar de táxi, da
mesma maneira que se cansa de andar de elevador. De repente, a gente sente que
tem de ir a pé, qualquer que seja a distância ou a altura. Quando eu era menor,
costumava subir para nosso apartamento pelas escadas. Doze andares.
Nem parecia que tinha nevado, as calçadas já estavam quase limpas. Mas
fazia um frio de rachar e tratei de tirar do bolso meu chapéu vermelho e botei na
cabeça - estava pouco ligando para minha aparência. Cheguei até a baixar os
protetores de orelha. Bem que gostaria de saber qual o safado que tinha roubado
minhas luvas no Pencey, porque minhas mãos estavam geladas. Não que eu fosse
fazer muita coisa se soubesse. Sou um desses sujeitos covardes pra chuchu.
Procuro não demonstrar, mas sou. Por exemplo, se tivesse descoberto quem
roubou minhas luvas no Pencey, provavelmente teria ido até o quarto do
vigarista e diria: "Muito bem. Que tal ir me passando as luvas?" Aí, o vigarista
que as tinha roubado provavelmente responderia, com a voz mais inocente do
mundo: "Que luvas?" Aí eu provavelmente ia até o armário dele e encontrava as
luvas num canto qualquer, escondidas na porcaria das galochas ou coisa que o