Page 304 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Depois de algum tempo, só para tirar da cabeça aquela estória de apanhar
pneumonia e tudo, catei meu dinheiro e tentei contá-lo, ali naquela luz horrível
do poste. Só tinha três notas de um dólar, cinco moedas de vinte e cinco
cêntimos e uma moedinha de cinco cêntimos - puxa, tinha gastado uma fortuna
desde a hora que saí do Pencey. Aí fui até à beira do laguinho e atirei as moedas
todas para o outro lado, rente à água, onde não estava congelado. Sei lá por quê
que fiz isso, mas fiz. Acho que era para tirar da cabeça aquela ideia de apanhar
pneumonia e morrer. Mas não tirou nada.
Comecei a imaginar o que a Phoebe ia sentir se eu apanhasse pneumonia e
morresse. Era o tipo da coisa infantil de se pensar, mas não conseguia parar. Ela
ia ficar um bocado triste se acontecesse um troço desses. Ela gosta muito de
mim. Quer dizer, tem muito afeto por mim. Tem mesmo. De qualquer maneira,
não conseguia afastar aquilo da minha cabeça, por isso acabei resolvendo que o
melhor era entrar escondido lá em casa e ver a Phoebe, para o caso de eu vir a
morrer e tudo. Eu estava com a chave da porta e resolvi que ia entrar no
apartamento, sem fazer barulho, e bater um papinho com ela. A única coisa que
me preocupava era a porta da frente, que range como uma filha da mãe. O
edifício é velho pra cachorro, o administrador é um sacana dum preguiçoso, e
por isso tudo lá range e geme. Fiquei com medo de que meus pais me pegassem
entrando escondido em casa. Mas resolvi arriscar de qualquer jeito.
Saí da droga do parque e fui para casa. Fui a pé até lá. Não era muito
longe, e eu não estava cansado. Nem bêbado estava mais. Fazia um frio de
rachar e não tinha ninguém pela rua.