Page 308 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 308
Saltei no nosso andar - capengando como um doido - e comecei a caminhar
para o lado dos Dickstein. Aí, quando ouvi a porta do elevador se fechar, dei
meia volta e fui para o nosso apartamento. Estava tudo correndo conforme o
figurino. Nem me sentia mais de pileque. Tirei minha chave e abri a porta, bem
de leve. Aí, com o maior cuidado e tudo, entrei e fechei a porta. Eu devia ter
nascido ladrão.
O vestíbulo estava escuro pra chuchu, como era de se esperar, e
naturalmente eu não podia acender a luz. Precisava ter cuidado para não esbarrar
em nada e fazer um pandemônio dos diabos. Mas tinha a certeza de que estava
em casa. O nosso vestíbulo cheira diferente de qualquer outro lugar. Não sei que
diabo é. Não é couve-flor nem é perfume - sei lá que porcaria é - mas a gente
sente logo que está em casa. Comecei a tirar o sobretudo para pendurar no
armário do vestíbulo, mas mudei de ideia porque aquele armário vive entupido
de cabides e faz um barulhão infernal quando a gente abre a porta. Aí fui
andando bem devagarinho pelo corredor, na direção do quarto da Phoebe. Sabia
que a empregada não ia me ouvir, porque ela só tinha um tímpano. Quando era
criança, o irmão dela tinha lhe enfiado um canudo no ouvido. Era um bocado
surda e tudo. Mas com meus pais a coisa era outra - principalmente minha mãe,
que tinha um ouvido de perdigueiro. Pisei macio pra burro quando passei pela
porta deles. Pra falar a verdade, até prendi a respiração. Quando meu pai está
dormindo, a gente pode dar uma cadeirada na cabeça dele que o velho não
acorda; mas, para minha mãe acordar, basta a gente tossir lá pras bandas da
Sibéria. Ela é nervosa pra chuchu. Quase sempre passa a noite toda acordada,
fumando.
Afinal, mais ou menos uma hora depois, cheguei ao quarto da Phoebe. Ela
não estava lá. Tinha-me esquecido. Ela sempre dorme no quarto do D. B. quando
ele está em Hollywood ou outro lugar qualquer. Ela gosta de ficar lá porque é o