Page 337 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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banho e tudo, e mesmo assim escutei o baque do corpo lá em baixo. Mas pensei
só que alguma coisa tinha caído pela janela, um rádio, ou uma mesa, ou coisa
que o valha, e não um garoto. Aí ouvi todo mundo correndo pelo corredor e se
despencando escada abaixo. Botei o roupão e também desci correndo, e lá estava
o James Castle, caído bem nos degraus de pedra e tudo. Estava morto, os dentes
e o sangue espalhados por todo lado, e ninguém nem ao menos chegava perto
dele. Estava com um suéter de gola alta que eu havia emprestado a ele. E não
aconteceu nada com os caras que estavam no quarto dele, só foram expulsos do
colégio. Nem ao menos foram presos.
Isso foi tudo que me veio à cabeça. As duas freirinhas que encontrei no
restaurante e esse garoto, o James Castle, que conheci no Elkton Hills. O gozado
é que eu mal conhecia o James Castle, pra dizer a verdade. Era um desses
camaradas quietos pra chuchu. Era meu colega na classe de matemática, mas se
sentava do outro lado da sala e raramente se levantava para responder a uma
pergunta ou para ir ao quadro-negro. Tem uns sujeitos na escola que quase nunca
respondem a uma pergunta ou vão ao quadro-negro. Acho que a única vez que
conversamos foi quando ele veio pedir emprestado meu suéter de gola alta. Por
um triz não caí duro de surpresa quando ele me pediu. Me lembro que estava
escovando os dentes, no banheiro, quando ele veio pedir o troço. Contou que um
primo dele vinha apanhá-lo para dar um passeio de carro e tudo. Eu nem ao
menos sabia que ele sabia que eu tinha um suéter de gola alta. Só sabia que o
nome dele vinha bem na frente do meu na lista de chamada. Cabel, R.; Cabel,
W.; Castle; Caulfield - ainda me lembro disso. Pra dizer a verdade, quase que
não emprestei o suéter. Só porque não conhecia ele direito.
- O quê? - perguntei à Phoebe. Ela tinha me dito alguma coisa que eu não
ouvi.