Page 177 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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engraçado, senti pena dele quando acabou a música. Acho que ele nem sabe
mais quando está tocando bem ou não. A culpa não é toda dele. Em parte, os
culpados são aqueles bobalhões que batem palmas como uns alucinados: eles são
capazes de enganar qualquer um, se tiverem uma chance. De qualquer maneira,
o troço me fez sentir deprimido e podre outra vez, e quase apanhei meu casaco e
voltei para o hotel, mas era cedo demais e eu não estava com muita vontade de
ficar sozinho.
Afinal me arranjaram uma mesa nojenta, encostada à parede e bem atrás de
uma droga duma coluna, de onde não dava para ver nada. Era uma dessas
mesinhas pequenininhas que, se o pessoal da mesa ao lado não se levanta para
dar passagem - e os filhos da mãe nunca se levantam - a gente tem praticamente
de fazer uma escalada para chegar na cadeira. Mandei vir um uísque e soda, que
é o drinque que eu prefiro se não tiver daiquiri. Qualquer sujeito com uns seis
anos de idade pode pedir bebida alcoólica no Ernie's. Primeiro, porque o lugar é
tão escuro e tudo, e depois porque ninguém está mesmo dando a mínima bola
para a idade da gente. O sujeito pode ser até viciado em entorpecente que
ninguém se importa.
Eu estava cercado de imbecis. Fora de brincadeira. Na outra mesinha, bem
do meu lado esquerdo, praticamente em cima de mim, tinha um casal com umas
caras feiosas pra burro. Tinham mais ou menos a minha idade, ou um pouquinho
mais. Era engraçado. A gente via logo que eles estavam tomando um cuidado
tremendo para não beber a consumação mínima muito depressa. Fiquei ouvindo
algum tempo a conversa deles, porque não tinha mesmo mais nada para fazer.
Ele estava contando a ela uma droga dum jogo de futebol que tinha visto naquela
tarde. E descreveu todas as jogadas da droga da partida, da primeira à última! -
fora de brincadeira. Era o sujeito mais chato que já encontrei em toda a minha
vida. E dava para ver que a garota dele nem estava interessada na droga do jogo,