Page 178 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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mas ela era ainda mais feiosa do que ele, por isso eu acho que ela tinha mesmo
de ouvir. O negócio não é mole para as garotas feias. Às vezes, elas me dão
muita pena, nem gosto de olhar para elas, especialmente quando estão com um
idiota que fica contando toda uma porcaria duma partida de futebol.
Mas, à minha direita, a conversa ainda estava pior. Tinha um sujeito metido
a besta, com um terno de flanela cinza e um desses coletes afrescalhados. Todos
esses filhos da mãe das universidades se vestem igual. Meu pai quer que eu vá
para uma dessas universidades metidas a bem, Yale ou talvez Princeton, mas juro
que não me pegam nesses lugares cretinos nem morto, no duro mesmo. Seja
como for, esse sujeito com pinta de aluno da Yale estava com uma garota
espetacular. Puxa, ela era um estouro. Mas valia a pena ouvir a conversa dos
dois. Em primeiro lugar, os dois já estavam meio altos. Ele estava passando a
mão nas coxas dela, por baixo da mesa e tudo, e ao mesmo tempo contando a
estória dum colega dele que tinha engolido um vidro inteiro de aspirina e quase
se suicidou. Ela ficava só dizendo para ele: "Que horrível... Não, querido. Por
favor. Não, aqui não..." Imagina só, passar a mão numa garota e ao mesmo
tempo contar a ela o caso de um cara que tentou se suicidar! Era o máximo!
Mas acabei me sentindo meio jogado fora, sentado ali sozinho. Não tinha
nada para fazer senão fumar e beber. Acabei dizendo ao garçon para convidar o
safado do Ernie para tomar um drinque comigo. Mandei dizer ao Ernie que eu
era o irmão do D. B. Mas acho que nem deu o meu recado. Esses sacanas nunca
dão os recados da gente a ninguém.