Page 270 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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melhor tocador de tambor que eu já vi na minha vida. Ele só tem chance de tocar

               o troço umas duas vezes durante uma música inteira, mas nunca parece chateado
               quando não está tocando. E quando afinal bate no tambor, bate de um modo tão
               gostoso  e  suave,  com  aquela  expressão  nervosa  no  rosto.  Uma  vez,  quando
               fomos a Washington com meu pai, o Allie mandou um cartão postal para ele,
               mas aposto que nunca chegou. Não sabíamos direito que nome íamos botar no
               envelope.










                      Depois que acabou o negócio do Natal começou a porcaria da fita. Era tão

               ruim que eu nem pude despregar os olhos da tela. Era sobre um camarada inglês,
               Alec qualquer coisa, que vai para a guerra e perde a memória no hospital e tudo.
               Depois  sai  do  hospital  de  bengala  e  mancando  por  tudo  quanto  é  lado,  por
               Londres toda, sem saber quem é ou onde está. Na verdade, ele é um duque, mas
               não  sabe  de  nada.  Aí  encontra  num  ônibus  uma  garota  boazinha,  caseira  e
               sincera  pra  chuchu.  A  droga  do  chapéu  dela  voa  e  ele  apanha  e,  depois  que
               sobem, começam a conversar sobre Charles Dickens. É o escritor predileto dos

               dois  e  tudo.  Ele  está  com  o  "Oliver  Twist"  debaixo  do  braço  e  ela  também.
               Quase vomitei. De qualquer forma, se apaixonam de estalo, só porque os dois
               são  tarados  pelo  Charles  Dickens,  e  ele  vai  ajudá-la  a  dirigir  uma  editora.  A
               moça  é  editora.  Só  que  o  negócio  não  está  indo  bem,  porque  o  irmão  dela  é
               porrista e mete o pau no dinheiro todo. Era um camarada amargo pra diabo, o
               irmão; ele era médico, mas depois da guerra não podia mais operar porque ficou

               com os nervos em pandarecos. Por isso vivia enchendo a cara, mas era muito
               espirituoso e tudo mais. Seja como for, o tal do Alec escreve um livro, a moça
               publica e os dois ganham um caminhão de dinheiro. Estão com tudo pronto para
               casar, quando aí aparece uma tal de Márcia. A Márcia era noiva do Alec antes
               dele perder a memória, e o reconhece quando ele está na loja autografando o
               livro. Ela diz ao Alec que ele é Duque, mas ele não acredita e não quer ir com
               ela visitar a mãe dele e tudo. A velhinha é cega como um morcego. Mas a outra

               garota, que é muito simples, manda ele ir. Ela é muito altruísta e tudo mais. Aí
               ele  vai.  Mas  nem  assim  recupera  a  memória,  nem  quando  o  cachorro
               dinamarquês pula em cima dele, e a mãe passa os dedos pelo rosto dele todo e
               traz o ursinho que ele carregava pra todo o lado quando era menino. Então, um
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