Page 268 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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opinião, que o cara também seja um bom filho da puta. Garotas. A gente nunca

               sabe o que elas estão pensando. Uma vez combinei um encontro dum amigo meu
               com a companheira de quarto de uma tal de Roberta Walsh. O nome dele era
               Bob  Robinson  e  ele  tinha  mesmo  um  complexo  de  inferioridade.  A  gente  via
               logo que ele morria de vergonha dos velhos dele e tudo, porque eles falavam "a
               gente vamos" e "nós faz" e coisas assim, e não eram muito ricos. Mas ele não era
               nenhum sacana nem nada. Era muito boa praça. Mas a companheira de quarto da

               Roberta  Walsh  não  foi  com  a  cara  dele.  Disse  à  Roberta  que  ele  era  muito
               mascarado - e o motivo para achá-lo mascarado foi ele ter dito que era capitão
               do time de debates. Uma coisinha assim, e ela achou o sujeito convencido! O
               problema com as garotas é que, quando elas gostam de um camarada, por mais
               sacana  que  seja,  dizem  que  ele  tem  um  complexo  de  inferioridade,  e,  se  não
               gostam dele, por melhor que o cara seja ou por maior que seja o seu complexo

               de  inferioridade,  chamam  ele  logo  de  mascarado.  Até  mesmo  as  garotas
               inteligentes fazem isso.










                      De  qualquer  maneira,  liguei  de  novo  para  a  casa  da  Jane,  mas  não
               respondiam  e  desisti.  Aí  tive  que  procurar  no  meu  caderninho  de  endereços
               alguém  que  estivesse  livre  naquela  noite.  O  diabo  é  que  no  meu  caderno  de
               endereços só tem uns três números: o da Jane, o do Sr. Antolini, que foi meu
               professor no Elkton Hills, e o do escritório do meu pai. Sempre me esqueço de
               anotar nele os nomes das pessoas. Por isso, acabei telefonando mesmo para o

               Carl Luce. Ele se formou no Colégio Whooton depois que saí de lá. Era uns três
               anos  mais  velho  do  que  eu,  e  não  era  nada  simpático,  mas  era  um  desses
               camaradas intelectuais pra chuchu - tinha o QI mais alto de todo o colégio - e
               achei que talvez pudéssemos jantar juntos em algum lugar e ter uma conversinha
               um pouco intelectual. Às vezes ele dizia uns troços muito edificantes. Por isso,
               liguei  para  ele.  Estava  estudando  agora  na  Universidade  de  Columbia,  mas
               morava na Rua 65 e tudo, e eu tinha certeza de que ele estava em casa. Quando

               atendeu, disse que não podia jantar comigo, mas que me encontraria para um
               drinque,  às  dez  horas,  no  Wicker  Bar,  na  Rua  54.  Acho  que  ficou  muito
               surpreendido  de  eu  ter  telefonado  para  ele.  Uma  vez  o  chamei  de  cretino  e
               bundudo.
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