Page 406 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 406

que  tive  sorte.  Podia  ter  morrido  quando  caí  no  chão,  mas  aterrissei  meio  de

               lado.  O  mais  engraçado  é  que  me  senti  melhor  depois  do  desmaio.  Verdade
               mesmo. Meu braço ficou um pouco doído, onde bati com ele no chão, mas parei
               de sentir aquela droga daquela tonteira.










                      A essa altura, já era mais ou menos meio-dia e dez, e por isso voltei para
               junto da porta, para esperar pela Phoebe. Pensei que aquela podia ser a última
               vez  que  eu  ia  vê-la.  Ela  ou  qualquer  dos  meus  parentes.  Imaginei  que
               provavelmente os veria outra vez, mas muitos anos depois. Poderia voltar para

               casa quando tivesse uns trinta e cinco anos - pensei - caso alguém ficasse doente
               e quisesse me ver antes de morrer, mas só assim eu deixaria a cabana e voltaria.
               Sabia que minha mãe ia ficar nervosa pra chuchu e ia começar a chorar e a me
               pedir  que  ficasse  em  casa,  que  não  voltasse  para  minha  cabana,  mas  eu  iria
               embora de qualquer maneira. Ia bancar o superior. Ia acalmar minha mãe e aí
               atravessava a sala, tirava a cigarreira do bolso e acendia um cigarro - tudo isso
               com  a  maior  calma.  Diria  a  eles  que  me  visitassem  algum  dia,  se  tivessem

               vontade, mas não ia insistir nem nada. Uma coisa eu ia fazer: ia deixar que a
               Phoebe fosse me visitar no verão e nas férias da Páscoa e do Natal. E deixaria o
               D.B. passar algum tempo comigo, se ele quisesse um lugar simpático e quieto
               para escrever. Só que não ia poder escrever nenhum filme na minha cabana só
               contos e romances. Ia estabelecer essa regra, que ninguém podia fazer nada de
               falso quando me visitasse. Se alguém tentasse fazer qualquer coisa falsa, ia ter

               que ir embora.









                      De repente, olhei para o relógio no vestíbulo e vi que já era vinte e cinco

               para uma. Comecei a ficar com medo de que talvez a velhinha na escola tivesse
               dito à outra mulher para não entregar meu recado à Phoebe. Fiquei assustado,
               achando que talvez ela tivesse mandado queimar o bilhete ou coisa que o valha.
               Me deu mesmo um medão danado. Queria muito ver a Phoebe antes de me largar
   401   402   403   404   405   406   407   408   409   410   411