Page 161 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Estava na hora de fecharem o bar, por isso pedi dois drinques para cada
uma e mais duas Coca-Colas para mim. A droga da mesa estava entupida de
copos. Uma das feias, a tal da Laverne, ficou me dando o gozo porque eu só
bebia Coca-Cola. O senso de humor dela era fabuloso. Ela e a tal de Marty
estavam tomando Tom Collins - em pleno inverno, tá bom? Eram grossas
mesmo. A loura, a Bernice, bebia uísque com água e entornava direitinho. Todas
as três não pararam nem um instante de procurar artistas de cinema. Quase não
abriam a boca - nem mesmo para conversar entre elas. A Marty falava um
pouquinho mais do que as outras duas. Ficava dizendo umas coisinhas chatinhas
e cretinas, assim como, por exemplo, chamar o toalete de mulheres de "quartinho
das menininhas"; e achava que o clarinetista da orquestra, um velho entregue às
baratas, era simplesmente um estouro quando se levantava e soprava um
daqueles solos desanimados de dar pena. Disse que a clarineta dele era uma
"flauta de mel". Que cretina. A outra bruxa, a Laverne, se achava muito
espirituosa. Ficou o tempo todo me pedindo para telefonar para meu pai e
perguntar se ele estava livre. Ficou perguntando se meu pai tinha algum
programa naquela noite. Ela me fez essa pergunta umas quatro vezes - era
espirituosa pra burro. A tal de Bernice, a loura, quase não falava. Toda vez que
eu dizia alguma coisa, ela perguntava "O quê?". Isso é o tipo do troço que enche,
depois de algum tempo.
De repente, quando terminaram os drinques, todas as três se levantaram na
minha cara e disseram que precisavam ir para a cama. Iam levantar-se cedo para
a primeira sessão do Radio City Music Hall. Tentei uma conversa para ver se
ficavam mais um pouco, mas não colou. Aí nos despedimos e tudo. Eu disse que,
qualquer dia desses, ia procurar por elas em Seattle, se fosse lá, mas duvido
muito que eu vá. Procurar por elas, é claro.