Page 164 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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mas nunca tínhamos conversado nem nada. Ela me deu um gelo tremendo no
começo, e depois tive um trabalhão para convencê-la de que pouco me
importava onde o cachorro dela ia se aliviar. Por mim, podia ser até na sala de
visitas. De qualquer maneira, depois disso acabamos amigos e naquela mesma
tarde jogamos golfe juntos. Me lembro que ela isolou oito bolas. Oito. Minha
maior dificuldade foi convencê-la a pelo menos abrir os olhos na hora de dar a
tacada, mas, no fim, consegui que ela fizesse progressos fabulosos. Jogo golfe
muito bem. Tem gente que nem acredita quando digo qual é o meu escore
normal. Uma vez, quase entrei num curta metragem sobre golfe, mas mudei de
ideia no último minuto. Pensei cá comigo que uma pessoa que odeia o cinema
tanto quanto eu seria um cretino se aceitasse aparecer num filme.
A Jane era uma garota muito engraçada. Não se podia dizer que fosse
propriamente bonita. Para mim era um estouro. Quando ela começava a falar
sobre um troço qualquer e ficava excitada, costumava mover a boca em
cinquenta direções ao mesmo tempo, lábios e tudo. Era o máximo. E ela nunca
fechava a boca completamente. Estava sempre entreaberta, principalmente
quando ela se preparava para dar uma tacada ou estava lendo um livro. Lia sem
parar, e bons livros. Costumava ler um bocado de poesia e tudo. Foi a única
pessoa, fora de minha família, a quem mostrei a luva de beisebol do Allie, com
os poemas escritos por todo o lado. Ela não chegou a conhecer o Allie nem nada,
porque aquele era o primeiro verão que passava no Maine - antes disso ela
costumava ir para Cape Cod - mas contei a ela uma porção de coisas sobre o
Allie. Ela se interessava por esse tipo de coisa.
Minha mãe não gostava muito dela. Achava que a Jane e a mãe dela eram
metidas a besta, porque não a cumprimentavam quando se encontravam na
cidadezinha. E isso acontecia a toda hora, porque a Jane também ia lá com a mãe
dela num La Salle conversível, fazer compras no mercado. Minha mãe nem