Page 165 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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achava a Jane bonita. Mas eu achava. O caso é que eu gostava do jeitinho dela,
só isso.
Me lembro de uma tarde. Foi a única vez em que quase nos beijamos. Era
um sábado. Eu estava na varanda da casa dela e lá fora chovia que não acabava
mais. Estávamos jogando damas. De vez em quando eu gostava de mexer com
ela por causa da mania de não tirar nunca as damas da última fila. Mas eu nunca
tinha vontade de mexer muito com ela. Bem que eu gosto de gozar uma guria
quando tenho uma chance, mas acontece um troço engraçado comigo. As garotas
de quem mais gosto são aquelas que nunca me dão muita vontade de mexer com
elas. De vez em quando, acho até que elas gostariam duma bobagem dessas - pra
dizer a verdade, tenho certeza de que gostariam - mas é difícil começar, depois
de se conhecer uma garota por algum tempo sem nunca ter dado um gozo nela.
Seja lá como for, eu estava falando sobre aquela tarde quando a Jane e eu quase
nos beijamos. Chovia pra diabo. Nós estávamos na varanda quando, de repente,
apareceu na porta o beberrão que era casado com a mãe dela e perguntou à Jane
se havia cigarros em casa. Eu mal conhecia o sujeito, mas parecia o tipo do cara
que só fala com a gente se estiver precisando de alguma coisa.
Era um péssimo caráter. De qualquer maneira, a Jane nem respondeu
quando ele perguntou se ela sabia onde estavam os cigarros. O cara perguntou de
novo, mas ela continuou calada. Nem tirou os olhos do tabuleiro. Finalmente, o
sujeito voltou para dentro. Aí perguntei a ela o que é que estava havendo. Nem a
mim ela respondeu. Fingiu que estava se concentrando no lance seguinte e tudo.
Aí, de repente, estalou uma lágrima no tabuleiro. Foi num dos quadrados
vermelhos - me lembro como se fosse agora. E ela esfregou a lágrima no
tabuleiro com o dedinho. Não sei por que, mas o negócio me chateou pra
caralho. Aí me levantei e me sentei ao lado dela no sofá - para falar a verdade,
quase me sentei no colo dela. Aí ela começou a chorar mesmo, e só me lembro