Page 166 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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que comecei a beijá-la toda - em qualquer lugar - olhos, nariz, testa,
sobrancelhas e tudo, as orelhas - o rosto todo menos a boca. Não sei como, mas
ela sempre arranjava um jeitinho de não me dar a boca. De qualquer maneira,
nunca mais estivemos tão perto um do outro. Pouco depois ela se levantou,
entrou e voltou com um suéter vermelho e branco que eu achava o máximo. Aí
fomos à porcaria dum cinema. No caminho, perguntei a ela se o tal de Cudahy -
era assim que se chamava o porrista - tinha alguma vez se metido a engraçadinho
com ela. Jane era muito garota, mas tinha um corpo infernal, e eu esperava
qualquer coisa dum filho da mãe como aquele cara. Mas ela disse que não, e
nunca pude descobrir qual era o problema. Tem garotas que a gente não
consegue nunca saber qual é o problema delas.
Também não quero dar a impressão de que ela era uma porcaria dum
iceberg ou coisa parecida, só porque nunca ficamos de agarramento. Não é isso.
Vivíamos o tempo todo de mãos dadas, por exemplo. Não parece grande coisa,
reconheço, mas era fabuloso ficar de mãos dadas com ela. Quando estão de mãos
dadas com a gente, a maioria das garotas deixam a mão morrer dentro da mão da
gente, ou então acham que têm de ficar mexendo os dedos o tempo todo, como
se estivessem com medo de estar chateando a gente ou coisa que o valha. Com a
Jane era diferente. Nós entrávamos numa droga dum cinema e imediatamente
ficávamos de mãos dadas até o filme acabar. E isso sem ficar mudando de
posição, sem fazer nenhuma complicação. Com a Jane a gente nem se
preocupava se a mão estava suada ou não. Só sabia uma coisa, estava feliz, no
duro.
Tem outra coisa que me lembrei agora. Quando estávamos no cinema,
aquele dia, a Jane fez um troço que me deixou maluco. Estava ainda no jornal ou
coisa parecida, quando, de repente, senti a mão dela no meu pescoço. Foi um
gesto engraçado, esse dela. Jane era muito garota e tudo, e as moças que a gente