Page 167 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
P. 167

vê pondo a mão no pescoço de alguém têm, quase todas, uns vinte e cinco ou

               trinta anos, e geralmente fazem isso com o marido ou um filho pequeno. Eu, por
               exemplo, de vez em quando faço isso com minha irmã menor, a Phoebe. Mas se
               uma garota é um bocado moça e faz um troço desses, é tão bonito que a gente
               nem sabe o que fazer.










                      De  qualquer  jeito,  era  nisso  que  eu  estava  pensando,  sentado  naquela
               poltrona caindo aos pedaços, no vestíbulo do hotel. Pensando na Jane. Por pouco
               não  ficava  doido  toda  vez  que  chegava  na  estória  dela  com  o  Stradlater  na

               porcaria do carro do Ed Banky. Eu sabia que ela não ia deixar o Stradlater chutar
               em gol, mas mesmo assim ficava furioso. Pra ser sincero, nem gosto de falar
               nisso.










                      Não  havia  mais  ninguém  no  vestíbulo.  Até  as  louras  com  pinta  de
               vigaristas  já  tinham  sumido  e,  de  repente,  me  deu  uma  bruta  vontade  de  ir
               embora. O lugar era meio deprimente, e eu não estava cansado nem nada. Por
               isso,  subi  até  o  quarto  e  vesti  o  casaco.  Aproveitei  para  dar  uma  olhada  pela
               janela e ver se todos os tarados continuavam em ação, mas as luzes já estavam

               apagadas. Peguei o elevador outra vez, desci, chamei um táxi e disse ao chofer
               para me levar ao Ernie's. O Ernie's é uma boate em Greenwich Village onde meu
               irmão D. B. ia muito antes de ir se prostituir em Hollywood. De vez em quando
               me levava com ele. O Ernie é um pretão gordo que toca piano. É metidíssimo a
               besta  e  mal  cumprimenta  as  pessoas,  a  não  ser  que  seja  um  figurão,  um  cara
               famoso ou coisa que o valha, mas toca piano de verdade. É sério, ele é tão bom
               que chega quase a ser chato. É difícil de explicar, mas é isso mesmo. É claro que

               gosto  de  ouvi-lo  tocar,  mas,  de  vez  em  quando,  dá  vontade  de  arrebentar  a
               porcaria  do  piano  dele.  Acho  que  é  porque,  quando  está  tocando,  ele  dá  a
               impressão de ser o tipo do camarada que só fala com uma pessoa quando sabe
               que ela é um figurão.
   162   163   164   165   166   167   168   169   170   171   172