Page 232 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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                      Depois  do  café,  como  o  meu  encontro  com  a  Sally  era  às  duas  horas  e
               ainda não havia passado de meio-dia, resolvi dar um passeio a pé. Não conseguia

               parar de pensar nas duas freiras. Não me saía da cabeça aquela bolsa de palha
               surrada em que elas coletavam dinheiro quando não estavam dando aula. Tentei
               imaginar minha mãe ou outra pessoa, minha tia ou aquela doida da mãe da Sally
               Hayes,  paradas  na  porta  de  uma  grande  loja,  catando  dinheiro  numa  cesta  de
               palha. Era difícil. Minha mãe nem tanto, mas as outras duas... Minha tia é um
               bocado  caridosa.  Trabalha  muito  para  a  Cruz  Vermelha  e  tudo.  Mas  ela  anda

               sempre muito elegante, e toda vez que faz alguma caridade está sempre podre de
               chic, de baton e todos esses troços. Era impossível imaginá-la fazendo caridade
               sem pintura nem nada e toda vestida de preto. E a mãe da Sally Hayes! Puxa
               vida.  Só  via  um  jeito  dela  sair  recolhendo  dinheiro  numa  cesta:  era  se  todo
               mundo ainda tivesse que fazer a maior reverência, se dobrar até o chão, cada vez
               que entregasse um donativo. Só botar o dinheiro na cesta e  ir em frente,  sem
               dizer nada, isso não bastava. Ela assim desistia em menos de uma hora. Ia ficar

               chateada, devolvia a cesta e se mandava para algum lugar elegante para almoçar.
               Era isso que eu apreciava naquelas freiras. A gente podia jurar que elas nunca
               tinham comido num lugar bacana. Só de pensar que nunca tinham posto os pés
               num  lugar  grã-fino  para  almoçar  me  deixou  triste.  Sabia  que  isso  não  tinha
               nenhuma importância, mas fiquei triste de qualquer maneira.
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