Page 240 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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- Ah, é. Então ela não está lá.










                      Ela estava tendo um trabalhão dos diabos para apertar os patins. Não tinha

               luvas nem nada, e as mãos dela estavam vermelhas de frio. Dei-lhe uma ajuda.
               Puxa, fazia não sei quantos anos que eu não segurava uma chave de patins. Mas
               não estranhei nem um pouquinho. Sou capaz de apostar que, se puserem uma
               chave de patins na minha mão daqui a uns cinquenta anos, e na maior escuridão
               do  mundo,  ainda  sou  capaz  de  dizer  o  quê  que  é.  Ela  me  agradeceu  e  tudo
               quando acabei. Era uma garotinha muito simpática e bem educada. No juro, fico
               um bocado feliz quando uma criança sabe ser simpática e educada na hora em

               que eu acabo de apertar os patins dela ou coisa parecida. A maioria das crianças
               é assim. É mesmo. Perguntei se ela queria tomar um chocolate quente comigo ou
               outra coisa qualquer, mas ela disse que não, muito obrigada. Disse que tinha de
               se  encontrar  com  uma  amiguinha.  Criança  tem  sempre  um  encontro  marcado
               com algum amigo. Eu me esbaldo com isso.










                      Mesmo sendo domingo e já sabendo que a Phoebe não estava no museu - e
               apesar do tempo estar tão úmido e ruim - atravessei o parque a pé até lá. Era do

               Museu de História Natural que a menina tinha falado. Eu conhecia aquele museu
               como a palma de minha mão. Eu tinha sido da mesma escola da Phoebe, quando
               era garoto, e íamos muito lá. Tínhamos uma professora, a Miss Aigletinger, que
               nos levava lá quase todo sábado. Às vezes íamos ver os animais, outras vezes os
               troços  feitos  pelos  índios  nos  tempos  antigos.  Cerâmica  e  cestas  de  palha  e
               outros  troços  assim.  Fico  feliz  só  de  me  lembrar.  Até  hoje.  Me  lembro  que,

               depois  de  olhar  as  coisas  dos  índios,  a  gente  quase  sempre  ia  ver  um  filme
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