Page 35 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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horas. Começou com umas cinquenta piadas cretinas, só para provar que era um
grande praça. Grande merda. Aí começou a contar como nunca se envergonhava
de se ajoelhar e rezar a Deus, sempre que estava numa enrascada ou coisa
parecida. Mostrou-nos como devíamos rezar a Deus - conversando com Ele e
tudo - onde quer que estivéssemos. Disse que devíamos pensar em Jesus Cristo
como se Ele fosse um camaradinha nosso. Contou que ele conversava com Jesus
o tempo todo, mesmo quando estava guiando o automóvel. Essa foi a maior!
Podia imaginar o filho da puta engrenando uma primeira e pedindo a Deus para
lhe mandar mais alguns defuntos. A única coisa boa do discurso foi bem no
meio. Ele estava contando que ótima pessoa que era, que sujeito bacana e tudo,
quando de repente um cara que estava sentado na minha frente, o Edgar
Marsalla, soltou um peido infernal. Era o tipo da coisa grosseira de se fazer
numa capela e tudo, mas foi um bocado engraçado. O sacana do Marsalla por
pouco não mandou o teto pelos ares. Quase ninguém riu alto, e o velho
Ossenburger fingiu que nem tinha ouvido, mas o velho Thurmer, o diretor,
estava sentado bem ao lado dele no tablado, e a gente podia ver que ele tinha
ouvido. Puxa, o homenzinho ficou fulo de raiva. Na hora não disse nada, mas na
noite seguinte decretou estudo obrigatório e apareceu para fazer um discurso.
Disse que o rapaz que havia causado o distúrbio era indigno de pertencer ao
Pencey. Tentamos convencer o Marsalla a soltar outro, bem no meio do discurso
do velho Thurmer, mas ele não estava no estado de espírito necessário. De
qualquer modo, lá é que era meu quarto: Pavilhão Ossenburger, nova ala de
dormitórios.
Foi um bocado bom voltar para o quarto depois de sair da casa do velho
Spencer, porque todo mundo estava no jogo e, para variar, o sistema de
aquecimento estava funcionando em nosso quarto. Tirei o paletó, a gravata,
desabotoei o colarinho e pus na cabeça um chapéu que tinha comprado em Nova
York. de manhã. Era um desses chapéus de caça, vermelho, com a pala bem
comprida. Eu o tinha visto na vitrina de uma loja de artigos esportivos quando
saímos do metrô, logo depois que descobri que havia perdido a porcaria dos
floretes e tudo. Só custou um dólar. Usava o chapéu com a pala virada para trás -
de um jeito meio ridículo, mas era assim mesmo que eu gostava. Aí apanhei o