Page 36 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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livro que estava lendo e sentei na minha poltrona. Havia duas poltronas em cada

               quarto. Eu tinha uma e meu colega de quarto, Ward Stradlater, tinha outra. Os
               braços estavam em petição de miséria, porque todo mundo sentava sempre em
               cima deles, mas eram umas poltronas um bocado confortáveis.










                      Estava lendo um livro que tinha apanhado por engano na biblioteca. Me
               deram o livro errado e só notei quando já estava de volta no quarto. Haviam me
               dado Fora da África, de Isak Dinesen. Pensei que ia ser uma droga, mas não era
               não.  Até  que  era  um  livro  muito  bom.  Sou  bastante  ignorante,  mas  leio  um

               bocado.  Meu  autor  preferido  é  meu  irmão  D.B.  e,  em  segundo  lugar,  Ring
               Lardner. Meu irmão me deu um livro do Ring Lardner no meu aniversário, antes
               de  eu  ir  para  o  Pencey.  Tinha  uma  porção  de  peças  malucas,  engraçadas  pra
               burro, e um conto sobre um guarda de trânsito que se apaixona por uma garota
               muito bonita, que dirigia sempre em excesso de velocidade. Só que o guarda era
               casado,  e  por  isso  não  podia  casar  com  ela  nem  nada.  Aí  a  garota  acaba
               morrendo, porque dirigia sempre em excesso de velocidade. Achei essa estória

               infernal. O que eu gosto mesmo é de um livro que seja engraçado, pelo menos de
               vez em quando. Li uma porção de livros clássicos, como A Volta do Nativo, e
               tudo, e gostei deles; li também vários livros de guerra e de mistério, mas nenhum
               desses me deixou maluco. Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler
               fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele
               toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer. Eu até que gostaria de

               telefonar  para  esse  tal  de  Ring  Lardner,  só  que  o  D.  B.  me  disse  que  ele  já
               morreu.  Mas,  por  exemplo,  esse  livro  do  Somerset  Maugham,  A  Servidão
               Humana, que li no verão passado. É um livro bom pra chuchu e tudo, mas não
               me dá vontade de telefonar para o Somerset Maugham. Sei lá. Não é o tipo de
               sujeito que a gente tenha vontade de telefonar para ele, essa é que é a verdade.
               Preferiria telefonar para o Thomas Hardy. Gosto muito da tal de Eustacia Vye.
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