Page 393 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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lenço no bolso. Tinha alguns na mala, mas não estava com a mínima vontade de
tirá-la de dentro do armário de aço e abrir ali, bem na frente de todo mundo.
Alguém tinha deixado uma revista no banco, ao meu lado, e comecei a ler,
achando que assim ia parar de pensar no Professor Antolini e num milhão de
outras coisas, pelo menos durante algum tempo. Mas a porcaria do artigo que
comecei a ler quase que me fez sentir pior ainda. Era sobre os hormônios.
Mostrava a aparência que a gente deve ter - a cara, os olhos e tudo - quando os
hormônios estão funcionando direito, e eu estava todo ao contrário. Estava
parecendo exatamente com o sujeito do artigo, que estava com os hormônios
todos funcionando errado. Por isso comecei a ficar preocupado com os meus
hormônios. Aí li outro artigo, sobre a maneira pela qual a gente pode saber se
tem câncer ou não. Dizia lá que, se a gente tem alguma ferida na boca que
demora a sarar, então isso é sinal de que a gente provavelmente está com câncer.
E eu já estava com aquele machucado na parte de dentro do lábio há umas duas
semanas. Por isso imaginei que estava pegando um câncer. A tal revista era um
bocado boa para levantar o moral da gente. Acabei parando de ler e saí para dar
uma volta. Calculei que devia morrer dentro de uns dois meses, já que estava
com câncer. Foi mesmo. Eu estava certo de que ia morrer. Evidentemente, essa
ideia não me deixou muito satisfeito.
Estava com jeito de que ia chover, mas saí andando assim mesmo. Em
parte porque achei que devia comer alguma coisa. Não tinha a menor fome, mas
achei que precisava pelo menos me alimentar um pouco. Quer dizer, pelo menos
tomar algum troço que tivesse umas vitaminas. Por isso comecei a andar na
direção leste, onde tem uma porção de restaurantes baratos, porque não estava a
fim de gastar um dinheirão.