Page 397 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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bolso e comecei a andar depressa na direção da escola - estava nervoso demais

               para escrever o bilhete ali mesmo na papelaria. Tinha que andar rápido, porque
               queria que ela recebesse o bilhete antes de ir para casa almoçar, e não sobrava
               muito tempo.










                      Naturalmente,  sabia  onde  era  a  escola  dela,  porque  eu  também  havia
               estudado lá quando era garoto. Quando cheguei, foi engraçado. Não tinha certeza
               se me lembraria de como era a escola por dentro, mas vi que me lembrava. Tudo
               continuava exatamente como no meu tempo. Tinha o mesmo pátio enorme do

               lado de dentro, sempre meio escuro, com aquelas telas de arame em volta das
               lâmpadas para não se quebrarem com uma bolada. Os mesmos círculos de giz
               pelo chão todo, para as brincadeiras de pular. E as mesmas cestas de basquete
               sem rede - só as tabelas e os aros.










                      Não havia ninguém à vista, provavelmente porque não era hora do recreio
               e nem tinha chegado ainda a hora do almoço. Só vi um garotinho, um pretinho, a
               caminho do banheiro. Do bolso dele saia um daqueles passes de madeira, como
               nós  costumávamos  usar,  para  mostrar  que  ele  tinha  permissão  para  ir  ao

               banheiro.









                      Eu ainda estava suando, mas não tanto quanto antes. Fui até as escadas,

               sentei no primeiro degrau e tirei do bolso o bloco e o lápis que tinha comprado.
               As escadas tinham o mesmo cheiro de quando eu estudava lá, como se alguém
               tivesse acabado de dar uma mijada por ali. Todas as escadas de escola têm esse
               cheiro. Seja como for, sentei e escrevi um bilhete:
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