Page 394 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Enquanto ia andando, passei por dois sujeitos que estavam descarregando
uma baita árvore de Natal dum caminhão. Um deles ficava só falando para o
outro: "Segura essa filha da puta! Segura mesmo!" Certamente, era o tipo da
maneira delicada de se referir a uma árvore de Natal. Mas até que tinha sua
graça, assim dum jeito meio infeliz, e eu mais ou menos comecei a rir. Foi a pior
coisa que eu podia ter feito, porque mal comecei a rir, pensei que fosse vomitar.
No duro. Cheguei mesmo a começar, mas logo passou. Sei lá por quê. Afinal de
contas, não tinha comido nada estragado ou coisa que o valha, e normalmente
tenho um estômago um bocado forte. De qualquer forma, consegui me agüentar
e imaginei que ia me sentir melhor se comesse alguma coisa. Entrei num
restaurante vagabundo e pedi café com roscas. Não houve jeito de engolir
direito. O caso é que, quando a gente está muito deprimido, é difícil como o
diabo engolir qualquer coisa. Mas o garçon foi simpático: levou as roscas de
volta sem me cobrar nada por elas. Só bebi o café. Aí saí e fui andando em
direção à Quinta Avenida.
Era uma segunda-feira e tudo, pertinho do Natal, e todas as lojas estavam
abertas. Por isso, até que não era de todo mau caminhar pela Quinta Avenida,
que estava um bocado natalina. Tinha toda aquela porção de Papais Noéis
magricelas nas esquinas, cada um sacudindo seu sino, e todas aquelas mulheres
do Exército da Salvação, as tais que não usam baton nem nada, também
badalando seus sininhos. Fiquei mais ou menos procurando aquelas duas freiras
que eu tinha encontrado na véspera, tomando o café da manhã, mas não as vi.
Sabia que não ia vê-las mesmo, porque elas me haviam dito que tinham vindo
para Nova York para ser professoras, mas de qualquer maneira continuei a
procurar por elas. Seja como for, de repente estava tudo um bocado natalino. Um
milhão de crianças zanzavam pelo centro da cidade com as mães, subindo e
descendo dos ônibus, entrando e saindo das lojas. Queria que a Phoebe estivesse
ali comigo. Ela já não é tão pequena que ainda fique inteiramente alucinada na
seção de brinquedos, mas gosta de circular e olhar as pessoas. No Natal passado