Page 77 - 9F O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO
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Eu não tinha namorada nem nada, por isso combinei com um amigo meu
que era do time de luta-livre, o Mal Brossard, da gente tomar um ônibus para
Agerstown, comer qualquer coisa por lá e talvez assistir a uma droga dum filme.
Nenhum de nós dois estava com vontade de passar a noite inteira sentado em
cima do rabo. Perguntei ao Mal se ele se importava que o Ackley fosse conosco,
porque o chato nunca fazia nada nas noites de sábado, a não ser ficar trancado
no quarto espremendo as espinhas ou coisa que o valha. Mal respondeu que não
se importava, mas que também não se entusiasmava muito com a ideia. Ele não
gostava muito do Ackley. De qualquer modo, cada um foi para seu quarto se
arrumar e tudo, e enquanto eu calçava minhas galochas gritei na direção do
quarto do Ackley, perguntando se ele queria ir ao cinema. Bem que ele podia me
escutar através das cortinas do banheiro, mas não respondeu logo. Era o tipo do
sujeito que odeia responder imediatamente. Afinal veio até meu quarto,
atravessando as cortinas, parou na borda do chuveiro e perguntou quem ia, além
de mim. Tinha sempre que saber quem ia sair com ele. Juro que se um dia ele
sofresse, um naufrágio e alguém fosse socorrê-lo numa porcaria dum bote, o
Ackley não saía da água antes de saber quem estava remando. Eu disse que o
Mal Brossard também ia, e ele respondeu:
- Aquele cretino... Tá bem, me espera um minuto.
Parecia que estava nos fazendo um grande favor. Demorou umas cinco
horas para se aprontar. Enquanto esperava, fui até a janela, abri uma banda e
comecei a fazer uma bola de neve, sem luva nem nada. A neve estava um bocado
boa pra isso, mas não joguei a bola em coisa nenhuma. Cheguei a começar a
jogar, num carro que estava estacionado do outro lado da rua. Mas mudei de